I. A Parábola do Rio Vivo
Era uma vez um rio.
Nascido nas montanhas geladas, ele corria pelo vale com força e serenidade. Suas águas desciam suaves e constantes, nutrindo tudo por onde passava. Não perguntava às árvores suas espécies, nem exigia dos animais fidelidade à sua origem. Simplesmente fluía — pura, abundante, disponível.
Onde havia secura, ele trazia vida. Onde havia lama, ele lavava. Onde havia dureza, ele amolecia. E onde havia divisão, ele unia margens.
Alguns o cercavam com barreiras, temendo sua força. Outros tentavam moldá-lo para servir seus próprios fins. Mas o rio verdadeiro, aquele que fluía desde o alto, seguia seu curso paciente, restaurando e regenerando tudo o que tocava.
E assim, o povo que vivia junto ao rio aprendeu a chamá-lo de Água Viva. Não por ser mágica, mas porque ensinava — com o simples ato de seguir — que dar vida, limpar e abraçar são os gestos mais sagrados da existência.
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II. O Princípio: Religião como Fonte de Vida, Não de Exclusão
Assim como a água do rio, uma religião autêntica não pode ser apenas defensora de fronteiras morais ou guardiã de uma verdade única. Ela deve ser fonte de vida, transformação e abraço.
A frase central que guia esta reflexão diz:
“Uma religião, para ser legítima, mesmo que condenando a imoralidade e o ódio, tem que portar um ideal que acolhe e abraça a todas as outras pessoas, mesmo de diferentes crenças e ideais.”
Essa ideia não é apenas um apelo humanista moderno — ela é ecoada nas fontes mais profundas das grandes tradições religiosas, nos escritos de filósofos e nos testemunhos históricos das civilizações que prosperaram com paz.
Vamos explorar essa tese em profundidade, em três grandes dimensões:
1. A raiz ética das religiões e sua relação com o outro;
2. A coerência interna das doutrinas com o princípio da dignidade humana;
3. O impacto histórico e contemporâneo de religiões que acolhem versus as que excluem.
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III. A Ética do Acolhimento: Um Fundamento Universal
Desde a aurora da civilização, a religião surgiu como resposta ao mistério da vida — ao sofrimento, à morte, ao sublime. Mas também surgiu para organizar sociedades e estabelecer limites éticos.
1. O Mandamento Central
Na tradição judaico-cristã, o mandamento maior é:
"Amarás ao Senhor teu Deus [...] e ao teu próximo como a ti mesmo." (Marcos 12:30-31)
Não diz "ao teu próximo da mesma religião". Diz apenas próximo — ou seja, qualquer um que cruza o teu caminho.
2. Budismo e o Amor Universal
O Metta, ou "amor bondoso", é ensinado como prática diária:
“Assim como uma mãe protege seu filho único com a própria vida, assim se deve cultivar um coração ilimitado por todos os seres.”
3. Hinduísmo e a verdade múltipla
O Rig Veda diz:
“A verdade é uma; os sábios a chamam por muitos nomes.”
Essa afirmação contém uma tolerância intrínseca ao pluralismo espiritual — o reconhecimento de que Deus, o divino, ou o absoluto pode ser percebido sob diferentes formas.
4. Islã e a liberdade de consciência
O Alcorão afirma claramente:
"Não há compulsão na religião." (Sura 2:256)
Mesmo em uma tradição que possui visões legais fortes, o princípio de convivência pacífica é fundamentado.
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IV. O Perigo do Exclusivismo Religioso
Por que então tantas religiões, mesmo com essas raízes, acabam sendo usadas para o ódio?
1. Apropriação ideológica
Quando uma fé é instrumentalizada pelo poder — político, étnico, ou econômico — ela perde sua essência. Deixa de ser rio, torna-se represa. Deixa de lavar, e passa a sufocar.
2. Medo do outro
Religiões que se sentem ameaçadas pela diferença tendem a reagir com isolamento ou agressividade. Isso não é fé — é insegurança disfarçada de devoção.
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V. Religião como Ponte: Casos Exemplares
Francisco de Assis e o Sultão
Em plena Cruzada, São Francisco foi até o Egito conversar com o sultão Malik al-Kamil — e foi recebido com respeito. Duas fés diferentes, mas dois corações abertos ao diálogo.
O Documento da Fraternidade Humana (2019)
O Papa Francisco e o Grande Imã de Al-Azhar assinaram um pacto histórico afirmando:
“A fé leva o crente a ver no outro um irmão a ser apoiado e amado.”
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VI. O Critério da Legitimidade Religiosa
À luz do que vimos, podemos propor um critério legítimo para avaliar uma religião:
Uma religião é legítima não apenas pela sua coerência doutrinária, mas pela sua capacidade de gerar amor, justiça e paz — especialmente com aqueles que não creem como ela.
Se ela exclui, odeia, humilha ou violenta, ela trai o espírito do sagrado, mesmo que diga estar agindo em nome de Deus.
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VII. Conclusão: Tornar-se Água
Voltemos à parábola.
A verdadeira religião é como o rio:
• Dá vida onde há morte;
• Limpa sem condenar;
• Abraça sem exigir conversão imediata.
Ela não deixa de ser firme contra a injustiça ou o mal. Mas faz isso sem deixar de ser fonte de vida.
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VIII. Chamado à Consciência
Você que crê, pergunte a si mesmo:
• Minha fé me faz mais compassivo?
• Ela me torna mais aberto ou mais fechado ao outro?
• Estou mais interessado em salvar o mundo ou em condená-lo?
E você que não crê:
• Consegue distinguir entre o religioso que exclui e aquele que acolhe?
• Está disposto a dialogar com quem busca Deus de forma sincera, ainda que diferente da sua?
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IX. Final: Ser como o Rio
Que sejamos como o rio.
Que fluamos com firmeza e ternura. Que nossa fé seja profunda, mas nunca dura. Que nossos princípios sejam claros, mas não cortantes. Que sejamos, como a água viva, símbolos de vida, limpeza e abraço.
Porque no fim das contas, Deus — seja como for concebido — não é o muro. É o vento. É a luz. É o rio.
E a religião verdadeira será sempre aquela que acolhe, abraça e transforma.
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Chat GPT, Texto de Tema: W. Costa
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23 de Maio de 2025